Um colega de profissão do policial Fabrício Lopes Freire, afastado suspeito de usar armas e drogas para incriminar investigados na região de Curitiba, prestou depoimento à Justiça e relatou outros flagrantes que, segundo ele, foram forjados pelo investigado.
O policial não quis ser identificado por medo de represálias, mas afirmou que "já no primeiro dia, o policial Fabrício deixou bem claro que é do jeito dele, e que o jeito dele não é necessariamente o jeito da lei".
No depoimento, o colega relatou sobre uma abordagem que ele e Fabrício fizeram a um rapaz suspeito por tráfico de drogas, em junho de 2018. "As drogas que foram encontradas com esse rapaz, até citei isso na outra audiência, isso foi tudo plantado', afirmou o depoente.
O policial disse que, na ocorrência, durante a revista ao carro do rapaz abordado, os dois encontraram uma pequena quantidade de cocaína. Segundo ele, Fabrício foi até o carro da equipe policial e pegou uma sacola com outro tipo de droga para incriminar o suspeito.
"Eu não vi, essencialmente, a droga, mas eu vi ele pegando essa sacola dentro da viatura, colocando lá no carro e tirando foto lá no carro. Só depois, na delegacia, que ele me disse que aquilo que tinha na sacola era maconha", disse.
No depoimento, o policial disse que Fabrício Lopes usou a mesma estratégia para incriminar outro homem, também suspeito de tráfico de drogas, motivado por vingança.
Segundo ele, o suspeito abordado não portava nenhum tipo de droga, mas Lopes colocou maconha no carro do abordado.
"Ele simplesmente abriu o porta-malas e jogou a mala dentro. Daí eu vi. Mostrou para mim os tabletes de maconha e tirou uma foto do porta-malas. Falou 'está pronto. Vamos levar para a delegacia, que lá a gente desenrola tudo'", afirmou o colega, em depoimento à Justiça.
Fabrício também forjou os registros da investigação, conforme o colega.
"Ele digitava o boletim, ele digitava os relatórios. Não tinha relatório prévio, investigação prévia, porcaria nenhuma. Isso aí é tudo mentira. Era tudo feito na hora", relatou.
'Kit flagrante'
Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em 2018, Fabrício roubou um revólver durante uma abordagem e depois "plantou" a arma na casa de um outro suspeito, que acabou preso.
Fabrício Lopes Freire foi indiciado, entre outros crimes, por roubo, tráfico de drogas e posse ilegal de armas.
O advogado que defende Fabrício, André Romero, disse que a arma e drogas encontradas com o cliente foram apreendidas durante investigações, e que o policial não fez relatório das ocorrências. O advogado nega que o policial tenha forjado flagrantes.
"São falsas acusações. São estratégias defensivas adotadas por alguns advogados que assumiram uma posição acusatória a partir de uma denúncia ocorrida por um ex-policial que encontra-se preso, cumprindo pena pela prática de roubo", disse o advogado.
O policial que denunciou Fabrício foi preso por assalto a uma distribuidora de bebidas em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, em agosto de 2018.
Nos casos mostrados na reportagem, as pessoas investigadas por ele foram absolvidas por falta de provas.
"É uma temeridade porque nós acreditamos que para se combater a criminalidade, você não pode praticar outros crimes. Então, o policial tem que cumprir a função dele com retidão, dentro dos limites da lei, e encaminhar as pessoas que efetivamente cometeram crimes, para que elas possam responder a processos, se defender e, caso condenadas, pagar pelo que fizeram", afirmou o promotor Denilson Soares de Almeida.
A Polícia Civil do Paraná informou que está acompanhando o caso com procedimentos administrativos, para investigar a atuação dos servidores. Disse ainda que atos irregulares serão apurados e punidos de acordo com a lei.