O empresário e delator Celso Frare, ex-dono da empresa Ouro Verde, afirmou que as empresas vencedoras de licitações do programa Patrulha do Campo fecharam um acordo no qual deveriam repassar 8% do valor bruto dos contratos ao grupo político do ex-governador Beto Richa (PSDB).
Frare detalhou em sete depoimentos, homologados pela Justiça, como funcionava o esquema de entrega de propina em contrapartida para que empresas vencessem as licitações. O caso é investigado pela Operação Rádio Patrulha.
O programa foi criado durante a gestão do ex-governador Beto Richa para a manutenção de estradas rurais entre os anos de 2011 e 2012.
De acordo com a denúncia, foram repassados R$ 8,1 milhões em propina. O empresário confirmou quatro repasses em dinheiro vivo.
Celso Frare detalhou em delação que as irregularidades era acertadas com funcionários do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR) e Pepe Richa, que na época era secretário estadual de infraestrutura.
Na delação, Frare disse que foi combinado que as empresas Cotrans, Ouro Verde e J. Malucelli venceriam a licitação. Segundo o empresário, cada uma ficaria com um lote do programa.
Ainda durante o depoimento, o delator afirmou que uma quarta empresa entrou na concorrência e venceu um dos lotes.
Conforme Frare, a empresa era a Terra Brasil, que, de acordo com o Ministério Público do Paraná (MP-PR), pertencia ao ex-secretário estadual de Assuntos Estratégicos Edson Casagrande. A entrada da Terra Brasil no programa deixou de fora dos lotes a J. Malucelli.
Mesmo assim, segundo o delator, a empresa de Joel Malucelli trabalhou no programa, mesmo sem vencer a licitação, por causa de um acordo feito entre os empresários.
"Daí a gente fez um trato com o Joel: 'se eu ganhar a concorrência, eu te dou uma das patrulhas pra você, te passo a parte da patrulha pra você. E se você ganhar a concorrência, você passa pra mim'.", disse Frare.
Um dos depoimentos dados por Celso Frare está sob sigilo. Neste depoimento, segundo apuração feita pela RPC, o empresário explica o esquema feito com o empresário Joel Malucelli para compensá-lo, já que a J. Malucelli não venceu nenhum lote da licitação.
As informações fazem parte de um inquérito do MP-PR que investiga o esquema de lavagem de dinheiro na Operação Rádio Patrulha.
Além da prisão de Celso Frare, a Operação Rádio Patrulha também foi responsável pelas prisões do ex-governador Beto Richa, o irmão dele, Pepe Richa, o empresário Joel Malucelli, além de outras sete pessoas.
Beto Richa foi preso no dia 11 de setembro de 2018 e solto quatro dias depois após habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Eles são acusados pelo MP-PR por crimes como corrupção e fraude à licitação num esquema que envolve mais de R$ 100 milhões pagos a empresas investigadas.
A empresa Ouro Verde fez um acordo de leniência se comprometendo a devolver R$ 33 milhões para compensar fraudes no Programa Patrulha do Campo.
A defesa do ex-governador Beto Richa afirmou que as acusações de Celso Frare são infundadas e que o empresário fez delação para não ser preso e diminuir os valores dos prejuízos que causou ao Estado.
Os advogados de Pepe Richa afirmaram que os relatos não são verdadeiros e que lamentam que um criminoso confesso receba credibilidade sem apresentar provas. A defesa afirmou também que Pepe Richa confia na Justiça e continua à disposição para esclarecer os fatos.
A defesa de Edson Casagrande informou que vai se manifestar depois que tiver acesso à integra da delação.
O advogado da empresa Terra Brasil afirmou que vai mostrar que a licitação foi lícita e que não houve nenhum crime.
O DER-PR afirmou que os fatos investigados aconteceram na gestão passada e que a nova administração tem colaborado com a Justiça.
A defesa de Joel Malucelli e da empresa J. Malucelli informou que é tecnicamente impossível ter havido qualquer irregularidade porque foi uma licitação muito concorrida. Ainda conforme a defesa, Joel Malucelli jamais teve qualquer contato com agentes públicos sobre esse assunto.
Tony Garcia afirmou que os fatos revelados na delação de Celso Frare apenas confirmam o que ele já tinha apresentado à Justiça.
A defesa de Celso Frare afirmou que seu cliente está à disposição das autoridades competentes para qualquer esclarecimento dos fatos.