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Médico que receitou dosagem 10 vezes maior de remédio para bebê atendia mesmo após exoneração do cargo no AM.
Moradores de Santo Antônio do Içá afirmaram que médico atendia no hospital público do município e não sabiam que ele havia sido exonerado do cargo.
Por G1 | Postado em: 11/07/2018 - 21:37

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Moradores do município de Santo Antônio do Içá, a 881 km de Manaus, afirmaram ter sido atendidos pelo mesmo médico que prescreveu uma dosagem 10 vezes maior de um medicamento para tratar a alergia de um bebê de 10 meses que morreu no domingo (8).

Sem registro no Conselho Regional de Medicina, o médico foi exonerado em fevereiro deste ano pela prefeitura após determinação do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM). Entretanto, alguns pacientes do Hospital Público do município afirmaram ao G1 que receberam atendimento do médico no período que ele, supostamente, estaria afastado do cargo.

O bebê Henzo Matheus Pinto Elias morreu na tarde de domingo, após passar seis dias internado na unidade. O bebê foi atendido melo médico Diedre Henrique Arce Foster, que foi exonerado do cargo em fevereiro deste ano. Na receita assinada por ele, é recomendado o uso de dipirona e 25 miligramas de prometazina – medicamento usado para combater reações alérgicas.

Diedre Foster foi contratado como médico cirurgião pela prefeitura de Santo Antônio do Içá no dia 1º de junho de 2016. O nome dele consta na relação de servidores da prefeitura de dezembro de 2017. Foster consta na folha de pagamento do Município até o mês de fevereiro deste ano, quando foi exonerado pela prefeitura.

 
Henzo teve edema cerebral e hemorraria intracraniana após dosagem errada de remédio (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Henzo teve edema cerebral e hemorraria intracraniana após dosagem errada de remédio (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Em nota, a prefeitura do município afirmou que Foster, “por saber da enorme demanda no Hospital Dom Alberto Marzi, estava fazendo trabalho voluntário por 10 dias, estando com a sua viagem de saída do município marcada e agendada.”.

Entretanto, moradores de Santo Antônio do Içá relataram ao G1 que já haviam sido atendidos pelo mesmo médico nos meses de março e junho, quando ele deveria estar afastado.

A aposentada Maria das Dores Cavalcante, de 59 anos, afirmou que foi até o hospital após passar mal em março deste ano.

“Estava com pressão alta e ele me consultou. Eu cheguei lá passando mal e me consultei com ele, ele passou uns exames, uns remédios e fiquei melhor, mas não sabia que ele tava afastado”, disse.

Ela afirmou, então, que decidiu procurar a família do bebê Henzo Matheus. A aposentada mostrou as receitas que o médico havia passado a ela, datadas de março de 2018. “A gente viu na TV e fomos na cidade procurar por eles. A gente sentiu essa dor deles, doeu na alma ver uma criança tão saudável morrer desse jeito”, disse.

O pai do bebê, Rômulo Souza, afirmou que recebeu inúmeros depoimentos de pessoas que foram atendidas pelo mesmo médico. “Tive o maior cuidado de ter certeza que estavam falando dele, mostrei a foto para todo mundo e todo mundo confirmou que foi atendido por ele depois de fevereiro”, disse.

A dona de casa Rosilene Tacaia Rodrigues, de 31 anos, levou o filho de 6 anos para o hospital em junho desse ano e afirmou que também foram atendidos por Foster. Segundo ela, o menino ficou internado no hospital durante quatro dias e precisou ser retirado da unidade após a família descobrir que o médico receitou dipirona, medicamento que a criança é alérgica.

“Meu filho tava com febre alta, vômito e diarreia. Levei ele lá no hospital e ele foi internado porque a febre não tava baixando. Meu filho não teve melhoras e o médico dizia apenas que ele tava com a garganta inflamada e a diarreia era verme. Ele passou um medicamento injetável e eu só o vi no dia que meu filho foi internado, depois não o vi mais, e quem aplicava o medicamento eram estagiárias”, disse.

Ainda segundo a mãe da criança, no terceiro dia de internação, ela percebeu que a criança não tinha melhoras e apresentava outros sintomas como inchaço e manchas pelo corpo.

 
À esquerda, a receita prescrita pelo médico ao menino Henzo Matheus antes da correção da dosagem para 2,5 mg feita com caneta  (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

À esquerda, a receita prescrita pelo médico ao menino Henzo Matheus antes da correção da dosagem para 2,5 mg feita com caneta (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

“Eu pensei que aquela reação só podia ser o medicamento. Eu perguntei das enfermeiras que medicamento que ela estava aplicando nele e ela disse que o médico tinha receitado dipirona e quando eu entrei no consultório dele, além de estar escrevendo a receita e falando no celular ao mesmo tempo, ele prescreveu dipirona, mesmo eu falando duas vezes que o meu filho era alérgico”, disse Rosilene.

Os pais de Rodrigo o levaram para uma outra clínica no município e ele foi diagnosticado com bronquite e já iniciou o tratamento para a doença.

Nos dois casos, o médico estaria atendendo pacientes após ser exonerado do cargo e antes do prazo de 10 dias de voluntariado que cumpriria, segundo a prefeitura.

G1 entrou em contato com o órgão, mas, até a noite desta quarta-feira (11), não obteve resposta sobre a suposta atuação ilegal do médico e sobe a relação de cargos e salários, bem como o quadro de servidores da prefeitura de Santo Antônio deste ano que estão desatualizados no Portal da Transparência do município.

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