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Nos últimos 3 meses, Paraná cadastrou entrada de três imigrantes por dia
Dados do Ceim mostram 304 cadastros realizados entre outubro e janeiro. 2018 promete ser ano de recorde
Por Bem Paraná | Postado em: 20/02/2018 - 07:57

O Centro Estadual de Informação para Migrantes, Refugiados e Apátridas do Estado do Paraná (Ceim) está tendo bastante trabalho nos últimos meses. Do dia 17 de outubro de 2017 até o final de janeiro último, um período de 106 dias, 294 imigrantes se cadastraram junto ao órgão ligado à Secretaria de Estado da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos (SEJU). O Ceim foi instituído no dia 4 de outubro de 2016 por meio do Decreto 5232.
O número é significativo, principalmente considerando-se que os cadastros registrados nesses três meses e meio representam 32% dos 909 feitos entre outubro de 2016 e janeiro deste ano.
Mas não é só isso. Também o número de atendimentos realizado pelo Ceim, que tem por objetivo oferecer informações à migrantes, refugiados e apátridas quanto ao acesso a serviços públicos estaduais e municipais, estão em alta. Até o dia 9 de fevereiro foram 3.008 atendimentos, dos quais 694 apenas em janeiro – recorde na história do Ceim, que oferece orientação sobre regularização documental, informações sobre direitos fundamentais e legislação trabalhista; orientação referente a matrícula e revalidação de estudos realizados no exterior; acesso à serviços e benefícios da Política de Assistência Social
A expectativa do Centro, inclusive, é que 2018 seja um ano de recordes no atendimento e cadastro de imigrantes. Um dos fatores envolvidos nisso é justamente o fato de o próprio Ceim ter se tornado mais conhecido do público nos últimos tempos. Outro, porém, é a imimente chegada de imigrantes venezuelanos. 
Atualmente, segundo a Polícia Federal, cerca de 42 imigrantes do país vizinho permanecem em Roraima. Para não sobrecarregar o estado do norte, o governo federal pretende enviá-los para quatro estados. Além do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Amazonas devem ser os escolhidos.
Em nota encaminhada ao Bem Paraná, a Seju informou que ainda não houve qualquer comunicado oficial por parte do Ministério da Justiça ou de qualquer órgão do governo federal. Contudo, destacou que no final de 2017 o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) já havia informado ao secretário Artagão Júnior, extra-oficialmente, que o governo federal entrará em contato com a Seju para alinhar o assunto.
O Paraná, contudo, já vem recebendo venezuelanos, que vieram espontaneamente ao estado – embora ainda em número reduzido. Uma evidência disso é que, até outubro do ano passado, o Ceim havia cadastrado a chegada de 17 venezuelanos, o equivalente a 2,8% dos migrantes registrados pelo órgão até a data. Além disso, a Pastoral do Migrante, ligada à igreja católica, em Santa Felicidade, atendeu neste ano três venezuelanos em Curitiba.

Casla aponta falta de estrutura
O grande problema que o Paraná poderá ter de enfrentar na acolhida aos migrantes é a falta de estrutura. Das dez casas de acolhimento previstas para serem implantadas, nenhuma havia saído do papel até o início do ano passado. O Ministério da Defesa, porém, já adiantou que o governo federal irá cooperar com estados e municípios que venham a receber novos migrantes. Só que as entidades e organizações não governamentais (ONGs) afirmam que tanto elas como o próprio Estado não têm condições de atender uma demanda maior.
“Não temos estrutura nenhuma para receber migrantes e não existem políticas públicas de acolhimento. Os migrantes que estão aqui estão em situação de extrema vulnerabilidade, dormindo na rua, desempregados. Virão para cá (os venezuelanos) em quê condições?”, questiona a advogada Ivete Caribé, voluntária da Casa Latino-Americana (Casla). “Mas se há necessiodade de vir (mais migrantes), o Brasil sempre foi aberto para migrações, então tem que se resolver de alguma maneira, dar assistência.”, finaliza Caribé.

Haitianos são maioria no Paraná
A maioria dos migrantes no Paraná são haitianos. Segundo estimativa da própria Seju, são cerca de 14 mil vivendo no estado. A maioria deles vieram entre os anos de 2010, quando um terremoto catastrófico atingiu o Haiti, e 2015, quando a crise econômica começava a dar seus primeiros sinais no Brasil. Já nos últimos anos, além da redução no fluxo migratório, nota-se outro fenômeno: muitos haitianos estão deixando o Brasil para tentar a sorte em outros países da América do Sul, principalmente o Chile.
“Agora quem tem vindo são mais os familiares dos que já estão aqui, nesses últimos dois anos reduziu muito a imigração”, aponta Ivete Caribé, recordando que o cenário econômico do país era outro quando teve início o fluxo migratório. “Dos haitianos, muitos foram para outros países para resolver o problema do desemprego, alguns até deixando familiares aqui, o que tem gerado problemas sociais bem sérios. Temos mulheres com crianças numa situação bastante difícil”, complementa a voluntária.

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