Mais de 11 mil paranaenses precisam fazer uma cirurgia e não conseguem. É o que revela levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), que conseguiu uma estimativa sobre o tamanho da fila por cirurgias eletivas do Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da Lei de Acesso à Informação. No Paraná, são 11.431 pacientes na fila de espera, 109 deles aguardando por um procedimento desde 2010.
De acordo com o Portal da Saúde, administrado pelo governo federal, as cirurgias eletivas são procedimentos realizados por meio de marcação, ou seja, sem caráter de urgência ou emergência para todas as especialidades. No estado, a fila maior, com 1.572 pacientes, é para tratamento cirúrgico de varizes (uni e bilateral). Em seguida vem tratamento com cirurgias múltiplas (1.005), colecistectomia (retirada cirúrgica da vesícula biliar, com 936), procedimento para correção da hérnia (620) e amigdalectomia com adenoidectomia (retirada das amígdalas e dos adenóides, com 410).
Embora o tamanho da fila de espera assuste, a situação do Paraná é uma das “menos piores” no país, aparecendo na 10ª colocação entre os 16 estados que responderam às informações requisitadas pelo CFM. Por ano, segundo dados do Ministério da Saúde, são feitas no Paraná entre 120 e 140 mil cirurgias eletivas com recursos da Média e Alta Complexidade da pasta.
Mas não foram apenas as verbas do governo federal que atenderam esses pacientes nos últimos anos. É que o Paraná é hoje o único estado brasileiro que aplica recursos próprios para cirurgias eletivas, o que possibilitou o atendimento de mais de 66 mil pessoas por meio do Mutirão Paranaense de Cirurgias Eletivas. Lançado no ano passado, o mutirão tem ajudado a reduzir a fila de espera em áreas como ortopedia, ginecologia, cirurgias de catarata, hérnia, vasculares, entre outros.
Em todo o país, o número de pacientes aguardando por algum procedimento elletivo chega a 904 mil, sendo mais da metade em Minas Gerais (434.598) e São Paulo (143.547). Já o número total de procedimentos cirúrgicos eletivos realizados anualmente no Brasil chega a 2 milhões.
Cadastro único pode amenizar situação
Uma das propostas do Ministério da Saúde para solucionar ou ao menos amenizar a questão seria a criação de uma fila única em todos os estados do país, de forma a dar transparência e agilidade ao atendimento dos pacientes, que muitas vezes ficam sujeitos à fila de um único hospital, deixando de concorrer a vagas em outras unidades próximas. Além disso, tendo conhecimento real da demanda nacional, o governo federal poderia alocar recursos de forma mais eficiente e equânime.
A ideia do Ministério é adotar valores diferenciados para o pagamento de alguns procedimentos – uma espécie de incentivo financeiro para estados e municípios que aderissem à chamada “Fila Única” – e, assim, reduzir o tempo de espera por cirurgias por meio do atendimento de rotina ou por meio de mutirões.
Aprovada em maio durante reunião da Comissão Intergestores Tripartites (CIT), em que gestores da União, dos estados e dos municípios pactuam políticas de saúde do país, até hoje a Fila Única do SUS não foi anunciada oficialmente.
“Crise é pontual”, diz ministro da Saúde
Em entrevista ao canal Globo News, o ministro da saúde, Ricardo Barros, afirmou que a situação da fila de espera do SUS é algo “pontual”, reflexo de estados e municípios que não cumprem sua parte da maneira adequada no atendimento à população e também um problema decorrente da própria forma de organização do sistema.
“Esta crise é pontual. Nós temos um sistema de saúde descentralizado. Os municípios e estados são responsáveis pela execução da saúde lá na ponta. Há municípios fazendo muito bem o seu trabalho e outros não”, afirmou Ricardo Barros, que em seguida fez uma espécie de mea culpa apontando problemas no próprio sistema. “Muitas vezes, uma mesma pessoa está em mais de uma fila. Então, até que a gente termine a informatização de todo o sistema de saúde, até o fim de 2018, não teremos como ajustar isso”, disse.
5 pacientes
de cada mil acabam morrendo a cada ano enquanto esperam pelo procedimento cirúrgico eletivo, aponta estimativa do Conselho Federal de Medicina (CFM). Isso significa que somente no Paraná 57 pessoas morrem na fila de espera do SUS, número que sobe para 4,5 mil mortes quando considerado todo o território nacional. A avaliação, contudo, não demonstra se a morte ocorreu em decorrência da ausência da cirurgia.
Cirurgias Eletivas – Paraná
Ano de entrada na fila
2017 1.783
2016 5.660
2015 1.822
2014 1.057
2013 622
2012 317
2011 44
2010 109
Não identificado 17
TOTAL 11.431
Tipos de procedimento com maior demanda
Cirurgia do aparelho digestivo, órgãos anexos e parede abdominal 2.242
Cirurgia do aparelho geniturinário 2.183
Cirurgia do aparelho circulatório 1.814
Cirurgia do sistema osteomuscular 1.813
Cirurgia das vias aéreas superiores, da face, da cabeça e do pescoço 806
Procedimentos mais demandados
Tratamento cirúrgico de varizes (bilateral) 1.572
Cirurgias múltiplas 1.005
Retirada da vesícula biliar 936
Cirurgia para correção de hérnia 620
Retirada da amígdala e dos adenóides 410
Procedimentos sequenciais em ortopedia 344
Remoção total do útero 310
Amputação do prepúcio (postectomia) 271
Laqueadura tubaria 229
Cirurgia plástica da vagina e do períneo 165
Municípios com as maiores filas
Londrina 4.215
Cambé 931
Rolândia 599
Almirante Tamandaré 550
Ibiporã 366
Palmas 272
Telêmaco Borba 244
Toledo 239
Curitiba 221
Sertanópolis 169